
“Em tudo ouvimos vozes: a pesquisa na heterociência”
CONFERÊNCIAS
CONFERÊNCIA DE ABERTURA
As concepções bakhtinianas para a pesquisa nos estudos da linguagem
Profa. Dra. Roxane Rojo (IEL/UNICAMP)
Tenho defendido em meus escritos que a perspectiva bakhtiniana para os estudos da linguagem, embora elaborada a partir dos anos 20 do século passado, sendo já quase centenária, constitui-se como um enfoque adequado e profícuo não somente para a linguagem verbal - como foi originalmente proposto pelo círculo -, mas também para outras semioses imagéticas, sonoras, performáticas, assim como para os enunciados híbridos deste conjunto de semioses, como é o caso do vídeo, do cinema e dos remixes.
Nesta conferência, buscarei elencar quais ideias e princípios do Círculo julgo particularmente produtivas para essa empreitada, com destaque para o método analítico (VOLOSHINOV, 1929), para a teoria dos gêneros do discurso (BAKHTIN, 1952-53) e, para entender os processos de produção e recepção, o conceito de arquitetônica (MEDVIÉDEV, 1928). A título de exemplo, será analisado um vídeo splitscreen e serão expostos alguns resultados de estudo doutoral recente (ALMEIDA, 2018) sobre remixes AMV (Anime Music Video).
CONFERÊNCIA DE ENCERRAMENTO
As concepções bakhtinianas para a pesquisa nos estudos da linguagem
Profa. Dra. Luciane de Paula (UNESP)
“(...) numa abordagem ampla das relações dialógicas, estas são possíveis também entre outros fenômenos conscientizados desde que estes estejam expressos numa matéria sígnica.” (BAKHTIN, PPD, 1997, p. 211). Desse ponto de vista, acreditamos que: 1. a concepção de linguagem assumida por Bakhtin (e por todo o Círculo) abarca o que temos denominado como tridimensional. Em outras palavras, as dimensões verbal (oral e escrita), vocal/sonora (entoação, ritmo, timbre, duração etc) e visual (cores, linhas, volumes etc) constituem o que Bakhtin chama “a potencial linguagem das linguagens” (ECV, 2003, p. 311); e 2. a materialização das linguagens pode ocorrer de maneira a enfatizar uma ou mais dessas dimensões, em diálogo, a depender do projeto de dizer do autor. Nesse sentido, a materialidade enunciativa pode ser verbal ou vocal/sonora ou visual, verbal-visual, verbal-vocal/sonora-musical, visual-vocal/sonora-musical ou verbo-voco-visual. A verbivocovisualidade da linguagem bakhtiniana se refere à potencialidade constitutiva da linguagem que carrega, em si, a sua tridimensionalidade. A maneira como a linguagem se materializa enunciativamente relativiza essa potencialidade à medida que enfatiza uma ou mais dimensões, em movimento (dialético-dialógico). Pensar essa relação entre uma concepção de linguagem ampla, tridimensional, que, de maneira indissociável, materializa-se colocando em jogo essas dimensões de maneira mais ou menos enfática é a proposta de reflexão desta conferência. A hipótese, já explicitada, é a de que haja um jogo entre linguagem e linguagens, pensamento e concretude. O intuito é trazer à baila a potencialidade da linguagem, materializada em ato. A importância desta reflexão se volta à compreensão metodológica e à pertinência filosófica dos estudos bakhtinianos na contemporaneidade, centrada na constituição de uma heterociência. Afinal, “Todo sistema de signos (isto é, qualquer língua), (...) sempre pode ser codificado, isto é, traduzido para outros sistemas de signos (outras linguagens)” (BAKHTIN, ECV, p. 311). Isso significa dizer que o Círculo sempre se voltou, em diversas de suas obras, à verbivocovisualidade da linguagem, entendida de maneira dialogicamente tridimensional.