
“Em tudo ouvimos vozes: a pesquisa na heterociência”
MESAS
Mesa 1: Diálogos sobre a produção do conhecimento nas esferas acadêmica e da divulgação científica
O Círculo de Bakhtin e a divulgação científica: apontamentos teórico-metodológicos para uma análise dialógica e comparativa de discursos em Ciência Hoje e La Recherche
Prof. Dr. Urbano Cavalcante Filho (IFBA/UESC)
A formulação da chamada “teoria dialógica da linguagem do Círculo de Bakhtin" tomou os enunciados literários como objeto principal de estudo, análise e interpretação. No entanto, uma gama de trabalhos que tomam essa teoria como pressuposto teórico-metodológico para a análise dos enunciados das mais variadas esferas de atividade humana (a exemplo de enunciados epistolares, políticos, jornalísticos, religiosos, científicos, publicitários, musicais, educacionais, filosóficos, sociológicos, do cotidiano, visuais, verbovisuais, verbovocovisuais, jurídicos, memorialísticos, históricos, retórico-argumentativos, entre outros), vem confirmando a produtividade que os conceitos forjados no âmbito dessa teoria permitem uma compreensão crítica dos fenômenos discursivos produzidos por sujeitos sociohistóricos situados. No presente trabalho, meu objetivo é apresentar e discutir a fecundidade da teoria bakhtiniana da linguagem para a análise de enunciados da divulgação científica, numa perspectiva contrastiva, a partir dos pressupostos teórico-metodológicos da Análise Comparativa de Discursos, vertente teórica nascida no âmbito do Cediscor (Centre de recherche sur les discours ordinaires et spécialisés) da Université Sorbonne Nouvelle, em Paris, na França. Dessa forma, organizo minha fala em 3 momentos distintos mas interdependentes, dialógicos e responsivos: i) aspectos teóricos da análise dialógica e comparativa de discursos; ii) aspectos metodológicos que sustentam o que chamarei de “análise dialógico-comparativa do discurso”, cuja metalinguística constitui o cerne orientador do estudo; iii) aspectos analíticos de comparação do discurso de divulgação científica de duas comunidades etnolinguísticas (brasileira e francesa), materializado nos enunciados das revistas Ciência Hoje e La Recherche, produções da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Société d'éditions scientifiques, respectivamente.
Literatura e Ciências da Religião – três contos que dialogam com os Mitos do Criação, do Dilúvio e da Destruição
Profa. Dra. Araceli Sobreira Benevides (UERN)
O diálogo entre a Literatura e as Ciências da Religião produz, no mundo contemporâneo, novos significados para as leituras da linguagem literária e religiosa. Nesse sentido, este trabalho demonstra como a leitura de contos reatualiza as narrativas de Criação e Destruição (Parcial ou Total) provenientes do discurso religioso judaico-cristão. Trabalhando com as semelhanças e diferenças, aproximações e distanciamentos, os contos Diário de Adão e Eva (Mark Twain), Vicente (Miguel Torga) e Chuva de Fogo (Leopoldo Lugones) expandem os sentidos da experiência religiosa provenientes de narrativas primordiais relatam a origem do Homem, o castigo que lhe foi dado, quando caiu em iniquidade e a sua própria destruição. São textos compreendidos pelo plano do cronotopo e da memória, para gerar reflexões sob um ponto de vista que amplia os horizontes culturais do leitor atual, principalmente no ambiente escolar.
Práticas de pesquisa e construção da autoria na escrita científica
Prof. Dr. José Cezinaldo Rocha Bessa (UERN)
Esta comunicação objetiva discutir a relação entre o uso de fontes em práticas de pesquisa e a construção da autoria na escrita científica de jovens pesquisadores. Partindo da compreensão de que a capacidade de localizar, selecionar, avaliar, sintetizar e citar fontes externas na escrita de pesquisadores se constitui um elemento-chave do letramento acadêmico (BURTON; CHADWICK, 2000), pretendemos mais especificamente examinar como práticas de seleção e uso das fontes se relacionam com a escrita de artigos científicos produzidos por estudantes em formação inicial como pesquisadores na pós-graduação. O enfrentamento desse objetivo implica a busca de respostas para as seguintes questões de pesquisa: que tipo de fontes os estudantes utilizam? Com que frequência elas são usadas? Como elas são distribuídas no corpo do texto? O que as escolhas de fontes e os modos como elas são mobilizadas indicam sobre o domínio da escrita acadêmico-científica, a construção da autoria e o letramento acadêmico dos estudantes de mestrado? O respaldo teórico advém de estudos do Círculo de Bakhtin e de trabalhos sobre letramento acadêmico, uso de fontes e práticas citacionais desenvolvidos por estudiosos como Burton e Chadwick (2000), Pollet e Piette (2002), Pecorari (2003, 2006, 2008), McClure e Clink (2009), Howard, Serviss e Rodrigue (2010), Jamieson, Howard e Serviss (2017). As análises preliminaries indiciam, dentre outros achados, que, no início da formação na pós-graduação, os estudantes de mestrado investigados enfrentam muitas dificuldades de selecionar e avaliar as fontes de pesquisa que utilizam, bem como de sintetizá-las adequadamente na construção dos textos científicos que produzem.
Mesa 2: Diálogos sobre letramentos múltiplos, enunciados estéticos e gêneros discursivos de diferentes esferas
Literatura e Ciências da Religião – três contos que dialogam com os Mitos do Criação, do Dilúvio e da Destruição
Profa. Dra. Araceli Sobreira Benevides (UERN)
O diálogo entre a Literatura e as Ciências da Religião produz, no mundo contemporâneo, novos significados para as leituras da linguagem literária e religiosa. Nesse sentido, este trabalho demonstra como a leitura de contos reatualiza as narrativas de Criação e Destruição (Parcial ou Total) provenientes do discurso religioso judaico-cristão. Trabalhando com as semelhanças e diferenças, aproximações e distanciamentos, os contos Diário de Adão e Eva (Mark Twain), Vicente (Miguel Torga) e Chuva de Fogo (Leopoldo Lugones) expandem os sentidos da experiência religiosa provenientes de narrativas primordiais relatam a origem do Homem, o castigo que lhe foi dado, quando caiu em iniquidade e a sua própria destruição. São textos compreendidos pelo plano do cronotopo e da memória, para gerar reflexões sob um ponto de vista que amplia os horizontes culturais do leitor atual, principalmente no ambiente escolar.
Literatura e Ciências da Religião – três contos que dialogam com os Mitos do Criação, do Dilúvio e da Destruição
Profa. Dra. Araceli Sobreira Benevides (UERN)
O diálogo entre a Literatura e as Ciências da Religião produz, no mundo contemporâneo, novos significados para as leituras da linguagem literária e religiosa. Nesse sentido, este trabalho demonstra como a leitura de contos reatualiza as narrativas de Criação e Destruição (Parcial ou Total) provenientes do discurso religioso judaico-cristão. Trabalhando com as semelhanças e diferenças, aproximações e distanciamentos, os contos Diário de Adão e Eva (Mark Twain), Vicente (Miguel Torga) e Chuva de Fogo (Leopoldo Lugones) expandem os sentidos da experiência religiosa provenientes de narrativas primordiais relatam a origem do Homem, o castigo que lhe foi dado, quando caiu em iniquidade e a sua própria destruição. São textos compreendidos pelo plano do cronotopo e da memória, para gerar reflexões sob um ponto de vista que amplia os horizontes culturais do leitor atual, principalmente no ambiente escolar.
Práticas de multiletramentos na escola: modos para os estudantes articularem axiologicamente criações artísticas multissemióticas
Profa. Dra. Isabel Cristina Michelan de Azevedo (UFS)
Este trabalho discute os desdobramentos de duas experiências didático-pedagógicas configuradas por professores da educação básica, vinculados ao Profletras, direcionadas a promover práticas de multiletramento, entendidas como práticas sociais situadas, concretas, historicamente marcadas, decorrentes da interação verbal, ou seja, dos diálogos que implicam os sujeitos em eventos de letramento. Voltados à produção discursiva de estudantes do 6º e 9º ano do ensino fundamental, as propostas visaram minimizar problemas identificados em classe, com base no desenvolvimento de materiais organizados em parceria entre estudantes e professores. Por meio da metodologia de estudo de caso, segundo Stake (2007), de viés qualitativo, propõe-se uma descrição aberta e flexível que permita especificar duas realidades complexas, submetida à interpretação em contexto e apoiada, nesta oportunidade, à observação de dados recolhidos em duas fontes: artigos decorrentes das pesquisas empreendidas e produções dos estudantes. Assim, discutimos como a escola pode colaborar com a construção de enunciados estéticos (textos verbovocovisuais), dentro de uma arquitetônica própria, na esfera literária e digital, por meio da produção de dois gêneros discursivos diferentes: miniconto multimodal e narrativa de vida/memória (em stop motion). Os resultados indicam que as práticas escolares associadas às TDIC contribuem com as atividades de produção textual, pois o desenvolvimento de práticas cooperativas de linguagem, com função sócio-histórica e cultural, aprimora as avaliações axiológicas (fundadas em valores estéticos e éticos), o uso de recursos linguísticos, discursivos, multissemióticos, favorece práticas sociais de linguagem, estimula o protagonismo em relações de poder dentro da escola e fora dela, além de possibilitar o exercício da cidadania.
Leitura e autoria: a escrita do cotidiano sob uma perspectiva dialógica
Prof. Dr. Hélio Márcio Pajeú (UFPE)
Esse trabalho se propõe a refletir e problematizar, a partir de um relato de experiência sobre práticas pedagógicas realizadas na disciplina Seminários de Leitura (ofertada no curso de Biblioteconomia da UFPE), algumas compreensões teóricas sobre leitura e autoria tendo por base proposições de atividades de leitura e escrita literária fundamentadas no pensamento dialógico de Mikhail Bakhtin no que diz respeito às suas acepções de ética, estética, autoria e gêneros do discurso. Concretiza uma discussão que coaduna leitura e autoria sendo trabalhadas de maneira pragmática e interdisciplinar que se esquive de uma dialética monológica e considere os atos éticos e estéticos dos sujeitos nas suas interações cotidianas, levando-os a constituírem suas identidades de leitores e autores no ambiente universitário. Por fim, apresenta os resultados das atividades de leitura e produção literária dos mais variados gêneros, desenvolvidos por alunos do primeiro período no contexto dessa disciplina, que foram materializados nos livros Memórias de Quartas-feiras (2015) Literatura de Quarta (2016), Literatura de Quinta (2017) e Ser tão nosso de cada dia (2018).
Sujeitos, estradas, encontros e desencontros: road movie e cronotopo
Profa. Dra. Maria da Penha Casado Alves (UFRN)
O road movie, enquanto gênero cinematográfico, tem sua archaica na necessidade de mobilidade do homem e na procura do sujeito por diferentes objetos de desejo. O cinema dá acabamento estético a uma temática que desde Gilgamesh, épico que antecede aqueles de Homero, cujo herói sai à procura da flor da imortalidade, constitui nossas matrizes culturais com diferentes narrativas, personagens, enredos e formatos. Objetivo tratar do road movie nacional “Viajo porque preciso, volto porque te amo”, longa-metragem dirigido por Marcelo Gomes e Karim Aïnouz, tendo como ancoragem teórica as concepções advindas do Círculo de Bakhtin no que concerne às relações dialógicas, a cronotopo, à constituição do sujeito. O trabalho se insere na área da Linguística Aplicada mestiça e fronteiriça e se orienta por uma interpretação qualitativa do enunciado estético em foco.
Mesa 3: Diálogos sobre alteridade e vozes sociais em esferas midiáticas e educacionais
Alteridade e Memória: relações dialógicas em esferas acadêmica e escolar.
Profa. Dra. Maria Bernadete Fernandes de Oliveira (UFRN)
No campo das ciências humanas, a partir dos anos 20 do século passado, surgem estudos sobre a linguagem e seus processos interacionais, com foco em sua natureza social, histórica e cultural, configurados em textos produzidos por pensadores do chamado Círculo de Bakhtin. O trabalho desses autores permeia-se de inquietações com o mundo da vida e o mundo dos signos, em sua relação com os valores, no processo de construção da linguagem. Ao conceber o ser humano como um ser de linguagem, uma das características, constitutivas do pensamento desses autores, é o de apresentar sempre “outras palavras”, face àquelas hegemônicas em seu tempo histórico, e estas outras palavras encontram-se visceralmente relacionadas ao seu dialogismo, concebido como inseparável dos mundos da vida e da necessária alteridade. Nessa mesa redonda, nossa reflexão caminha no sentido de discutir a temática da alteridade no âmbito dos escritos de pensadores do Círculo, relacionando-a à noção de memória e exemplos de seu funcionamento em enunciados produzidos na esfera escolar e acadêmica. A organização de nossa apresentação tem como foco uma revisão do conceito de memória e de alteridade nos escritos de M.Bakhtin, seguida de exemplos que apontam para as relações entre essas duas noções, em enunciados produzidos por pesquisadores e alunos do ensino superior.
Enunciados prototípicos no debate da mídia eletrônica
Profa. Dra. Rita Maria Diniz Zozzoli (UFAL)
Nesta apresentação, serão focalizados enunciados nomeados até agora prototípicos (ZOZZOLI, 2014, 2015) e fazem parte de um fenômeno mais amplo de disseminação do já-dito e do já-feito, tendo uma ligação estreita com acontecimento/s e com temas através da cadeia do diálogo social (BAKHTINE, 1978) e por meio da memória coletiva (MOIRAND, 2007) (COURTINE, 1981). Levando em conta a priori históricos e a priori formais (FOUCAULT, 1969), tais enunciados reúnem condições potenciais para serem disseminados em situações de produção de discurso concomitantes ou posteriores, numa mesma dimensão cronotópica (BAKHTINE, 1978) ou em dimensões diferentes. Dentre outras características, a linguagem utilizada atende a objetivos de visibilidade, impacto e rapidez no lugar de uma argumentação explícita, recorrendo, dentre outras estratégias, à alusão (AUTHIER-REVUZ, 1992, 2007), à aforização (MAINGUENEAU, 2011) e à alteração no sentido empregado por Peytard (1992). Os exemplos apresentados fazem parte de dados coletados no Facebook, no Youtube e no Twitter e em Blogs. Serão evidenciadas possíveis relações dialógicas (BAKHTIN, 1997) entre os enunciados através do diálogo social, como, por exemplo, no caso do enunciado “O Brasil voltou, 20 anos em 2” que tem relações dialógicas com “Juscelino Kubitschek, 50 anos em 5” e com vários outros localizados em tempo/espaço (cronotopo, BAKHTIN, 1998) diversos.
Vozes na arena do discurso: uma análise dos indícios de autoria em
pesquisas produzidas por pós-graduandos
Profa. Dra. Maria do Socorro Maia F. Barbosa (UERN)
A concepção de linguagem proposta por Bakhtin e o Círculo rege que os sujeitos históricos e socialmente situados, que produzem enunciados únicos e irrepetíveis em situações específicas de comunicação, leva à compreensão da autoria como aspecto relevante do discurso, como uma tomada de posição diante da variedade de vozes sociais. Vez que ao usar a linguagem, os sujeitos dialogam com outras vozes e posicionam-se em relação a elas, efetuando escolhas que singularizam seu dizer, revestindo-o de um maior ou menor grau de autoria. A partir desses pressupostos, a nossa reflexão tem como objetivo discutir a temática da autoria em pesquisas produzidas por pós-graduandos, do PPGL/UERN. O nosso trabalho parte da noção de autoria presente em Bakhtin (2003). Pauta-se em apresentar as pesquisas que entendem a autoria como um trabalho sobre a linguagem, no qual o sujeito assimila e reelabora o discurso alheio, utilizando recursos estilísticos para materializar as diversas vozes sociais e posicionar-se em relação a elas.
Mesa 4: Diálogos sobre enunciados das esferas religiosa e urbana
O evangelho cristão como narrativa menipeica
Prof. Dr. João Batista Costa Gonçalves (UECE)
Bakhtin (1981), na obra Problemas da Poética de Dostoievski, embora não tenha desenvolvido e levado às últimas consequências a discussão em torno da importância dos textos cristãos para a análise dos gêneros carnavalizados do sério-cômico, reconheceu, ao indicar as fontes mais remotas da carnavalização, que este fenômeno deita em bases da literatura cristã antiga, a exemplo dos evangelhos cristãos. Procurando, então, desenvolver esta questão, qual seja, a de analisar os evangelhos bíblico-cristãos como um tipo de gênero sério-cômico, em especial, como sátira menipeia, levantamos a seguinte pergunta: De que forma a sátira menipeia influencia na composição discursiva da literatura bíblica dos evangelhos? Para efeito de análise, ao invés de investigarmos aspectos da carnavalização em todos os evangelhos canônicos, o que demandaria uma pesquisa de caráter bem mais amplo, optamos por estudar um dos evangelhos, no caso o de Mateus, por entender que neste evangelho já superabundam peculiaridades do gênero da menipeia, como a presença de uma narrativa fantástica, em que o aparecimento de atos excêntricos e as ações de coração/destronamento, profanação são constantes na construção da narrativa, cujo espaço predominante é o da praça pública e o tempo do enredo é o tempo de crise.
Concepções de língua, texto e gênero em manuais de hermenêutica bíblica: um enfoque dialógico-discursivo
Prof. Dr. Pedro Farias Francelino (UFPB)
A Teologia constitui um campo do saber caracterizado pelo diálogo com várias áreas do conhecimento, tais como Filosofia, Ciências da Religião, Ciências Sociais, Antropologia, História e, de forma não menos importante, os Estudos da Linguagem. A Hermenêutica Bíblica é o ramo principal da Teologia responsável pelo estudo da interpretação do texto sagrado, com objeto e método(s) rigorosamente definidos. É com o auxílio dessa disciplina que o(a) estudioso(a) elabora o que se chama de exegese, ou seja, a interpretação do texto bíblico mediante análise de quatro níveis: histórico-cultural, linguístico, literário e teológico. Como recorte para este trabalho, interessam-nos os níveis linguístico e literário, considerando que neles é que se estudam os aspectos relacionados às formas de organização linguística (morfologia, léxico, sintaxe etc.) e composicional do texto (gênero). Entretanto, uma análise panorâmica dos principais manuais de hermenêutica bíblica parece mostrar uma concepção de língua arraigada numa perspectiva de base formal ou, quando muito, alinhada à perspectiva da linguística do texto em suas primeiras formulações (estudos de coesão e coerência, por exemplo). Para esta comunicação, pretende-se analisar, à luz dos escritos linguístico-literário-filosóficos de Bakhtin/Volochínov/Medvedev, a concepção de língua vigente nesses manuais e, de forma particular, problematizar a noção de gênero (literário) que a hermenêutica mobiliza para a abordagem de seu objeto. Espera-se mostrar como os estudos bakhtinianos podem contribuir para uma releitura metodológica do enfrentamento dessas questões a partir da perspectiva dialógica.
Diálogo urbano: linguagem e identidade
Marília Varella Bezerra de Faria (UFRN)
Esta comunicação discute a paisagem da cidade, vista a partir da intensificação da hibridação cultural (CANCLINI, 2013). No movimento da cidade, múltiplas linguagens se entrecruzam: grafites, cartazes comerciais, manifestações políticas e sociais, monumentos. Nesse sentido, a paisagem linguística (SHOHAMY, 2010, 2012), que compõe o espaço público urbano, incluindo letreiros, nomes de ruas, de monumentos, lugares e instituições, sinais de trânsito, placas comerciais, etc, torna-se particularmente interessante se analisada no seu contexto multilinguístico e multicultural a partir, por um lado, do conjunto de formas ou modos de comunicação disponíveis no espaço público e, por outro lado, a partir dos seus usos e valorizações. Ademais, as preferências linguísticas para compor esse cenário não são o resultado de escolhas arbitrárias, antes evidenciam atitudes individuais e/ou coletivas sócio-historicamente determinadas. Ajustamos aqui o nosso olhar à cidade de Natal, inserida na descontinuidade do mundo pós-moderno; nos detemos na composição visual do espaço público; refletimos sobre a construção identitária dessa cidade a partir de enunciados (BAKHTIN, 2002, 2009, 2010) que compõem seu cenário urbano, particularmente, em um bairro litorâneo. O percurso que adotamos para apoiar nossa discussão inclui, primeiramente, considerações acerca do conceito de identidade cultural (HALL, 2005, 2009) e de paisagem linguística, com o objetivo de melhor contextualizar o objeto deste estudo. Em seguida, apresentamos breves análises como ilustração dessa discussão, no contexto da inconclusibilidade do processo de construção identitária da cidade.